Eu continuo nessa linha linear de
comportamento, que exige que você não faça escândalos por ser falta de
educação. Por fora eu até posso ser um rosto bonito, mas e por dentro? O que eu
estou sendo por dentro? Como é minha beleza por dentro? Se é que eu tenho
alguma beleza. Acho que eu me assustaria se visse a minha imagem interior. Devo
estar toda puída.
Eu tento resgatar minhas épocas
anteriores e tentar responder a questão: Alguma vez eu estive ajustada nesse
mundo? Em algum momento estive no lugar certo? Porque de verdade acho que eu
nunca estive em lugar nenhum. Eu apenas perambulei pelas ruas, como um rato
envenenado se rasteja pelos bueiros.
Parece que todos os propósitos foram
criados para me distrair e que no fundo eu não vejo sentido em nada. Por isso
que criam escolas e profissões, para que você não sinta falta de ser livre.
Para que você faça alguma coisa e não se suicide. Eu gostaria de estar morta e
enterrada, e talvez nem isso eu deseje de verdade;
Eu cheguei à um estado em que eu
simplesmente ‘estou’. Entretanto eu não ‘quero’, não ‘sinto’ e não ‘sou’. Como
um paciente vegetativo.
O meu estado consiste num vazio que não
machuca, não da saudade e não traz medos. Apenas está ali somado a multidão.
Como apenas mais um grão de areia na praia. Daqueles bem afastados que não
provam do frescor do mar. É como se eu estivesse me autoclassificando no grupo
‘dos sem propósitos’.
Acho lindas as mensagens que passam nos
filme de ‘você deve acreditar e nunca desistir dos seus sonhos’. Isso não me
ajuda em nada. Eu talvez devesse ter um sonho, mas qual?
Um marido atencioso? Filhos que terão
um propósito mais inteligente? Uma carreira bem sucedia? Dinheiro para chutar
ao longe, acumulado em montes?
Não importa se eu estivesse matando uma
pessoa ou a estivesse fazendo sorrir, eu não me sentiria mais viva por causa
disso.
Dizem que o ser humano é insaciável por
não saber o que ele deseja realmente. Uns veem sentido no amor. Outros
discordam e o amor entra em debate. Então ele vira um tema a ser discutido e
não mais uma solução. Uns alimentam raiva ao longo dos anos e nunca a
compreendem. Uns fazem projetos para suas vidas, outros deixam a vida os
levarem.
Uns colocam toda sua fé num Deus maior
que nós, e lá vem mais teorias. E esse Deus por horas é Deus por outras é o
Diabo e por vezes não existe. Se Deus existe acho que ele é mais um derrotado
como nós. Se Ele realmente existe espero que Ele esteja frustrado com o que
fez. Espero que Ele tenha se arrependido do que criou. Se Deus existe ele é com
certeza um desses bons artistas desprezado, que não alcançou a perfeição em sua
obra por ignorar sua existência, e até hoje não tem seu reconhecimento por
ainda estar vivo. Porque somente quando Deus morrer na mente de todos é que ele
será lembrado como um Deus.
Até mesmo quando eu morrer vão inventar
algo bom ao meu respeito. Não por que gostem de mim, apenas para reconfortarem
a si mesmo com a ilusão que não há vida inútil.
Hoje eu não sou nada, mas se eu
morresse hoje até um desconhecido falaria bem de mim. E o que adianta
reconhecimento quando nada lhe agrada? Quando para todo lugar que você olha, você vê
hipocrisia, incluindo o espelho?
Espero que Deus se odeie por ter me
criado.
Por que o homem tem tanto medo da
dependência, e por que insiste em depender sempre de algo? Seja do tempo, do
dinheiro, do amor ou da dor.
Essa é a verdade sobre nossa espécie.
Somos podres. E não adianta responsabilizar um ser que nem podemos ver,
compreender e nem mesmo definir.
Definições!
O mundo se perdeu em definições e nunca
compreendeu nada de verdade. Porque sempre teve que existir um mais forte, um
mais sábio. Sempre houve competições de poder, e poder de verdade ninguém
possuiu. Porque ninguém soube direito o que o poder é. Tentaram definir e
monopolizar o poder, assim como fizeram com os Deuses e continuam fazendo com
tudo o que existe.
Deus nunca vai se odiar por ter me
criado, ou por ter criado o mundo. Ele vai se odiar unicamente por um dia ter
desejado ser Deus.
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