Eu
vi defuntos
Vestindo
máscaras
Preparavam-se
para o funeral
Vi
mortos aguardando
O
fim do expediente
Para
encerrar de vez
Mais
um dia teatral
Eles
se moviam
E
cochichavam
Mas
não estavam lá de fato
Estavam
mortos
Sem
velório
E
os vermes corroendo
Corroendo....
Uns
falavam ao telefone
Outros
corriam e se esbarravam
Esbravejavam
Uns
pediam esmola
Para
as máscaras de ar sério
O
mundo na verdade
É
um grande cemitério
Somos
as flores murchando
Nas
lápides onde nossos ancestrais também murcharam
Somos
um barril acumulado
De
horas trabalhadas
E
realizações banais
Eu
vi mortos vivendo
Inteiros?
Só
em termos carnais
Com
os corações sepultados
Com
os sonhos esquecidos
Vi
rostos pintados
E
descoloridos
Mas
nenhum com cor natural
Só
vi falta de vida
Na
vida cotidiana
Vi
morte nos sorrisos
E
procurei a morte de verdade
E
adivinhe!
A
morte não está tão morta
Quanto
a vida desta cidade
Esbarrei
em sonhos perdidos
Daqueles
que foram descartados
E
se podaram para serem aceitos
E
agora morrem de dias perfeitos
Morrem
por estarem adaptados
Desculpem-me
se ofendo
Mas
nessa vida tão estúpida
Quanto
mais observo a sociedade
Mas
admiro as prostitutas
Cansei
de uma vida trancada
E
tentei viver de novo
Mas
acho que nesse governo
A vida não trabalha de carteira assinada.
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